EU, ENFERMEIRA | Série: A noiva



Desde que conheci minha sogra que ela gosta de contar histórias. As que mais ouvi, acredito, foram sobre os problemas de saúde de Ramison. Ela começa relatando o parto em que ele foi puxado à vácuo, continua dizendo que “o couro dele caiu” assim que voltou pra casa (se me lembro bem, por causa de uma catapora) seguindo assim uma série de causos que já denunciava a saúde frágil dele, mas o que os meus olhos não viam até então, meu coração não se sentia preocupado ou pensativo sobre isso, mas aprouve ao Senhor me provar e me ensinar lições preciosas.

Eu, egoísta

Eram dias normais quando as minhas aulas começaram. Ramison começou a passar mal com frequência, dores, náuseas, mal estar constante… As idas à emergência eram mais frequentes do que eu estava acostumada e, aparentemente, sem motivos específicos. Mas uma coisa era certa: ele estava doente e precisava de cuidados e isso exigiria tempo.
A grande questão era: eu queria casar o mais breve possível e se ele estava doente, precisaríamos adiar todo um planejamento afim de que ele se recuperasse, aliás, doente ele não era produtivo e, consequentemente, tudo o que se referia a nós dois era afetado. Era frustrante pra mim! As minhas orações a Deus eram súplicas de força e sabedoria pra lidar com tudo aquilo. Eu era tentada constantemente a achar que ele era um hipocondríaco e isso me deixava profundamente irritada. Eu precisava me esforçar muito pra ser paciente, tratá-lo bem e me dispôr a ir com ele pro hospital sempre que ele se sentisse mal. Muitas vezes, interromper todo um planejamento do dia porque ele estava precisando de mim. Eu não queria nada daquilo! Eu queria estar recebendo uma aliança de casamento e não um pulseirinha de acompanhante. Tudo girava em torno disso: eu, eu, eu e eu! Mas, e ele? O que eu precisava era recorrer urgentemente à definição bíblica de amor.

O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1 Coríntios 13.4-7)

Quando pensamos em egoísmo, a ideia que vem à mente é limitada aos nossos bens, porém, mais do que isso, precisamos ceder também a nós mesmos. Partindo do princípio que a nossa vida não é nossa e pertence a Deus (Salmos 24.1), ela deve ser vivida pra a glória de Deus (1 Coríntios 10.31). E se há um ponto referencial, Cristo é o nosso exemplo excelente.

“Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz.
Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.” (Filipenses 2.5-11)

A mesma disposição que houve em Cristo, Deus encarnado, o Filho de Deus, deve haver em nós. Os versículos anteriores deste mesmo capítulo recomendam preciosidades: “Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros.” (Filipenses 2.4-5).

Nós, em Cristo

Estejamos avisadas de que não conseguiremos ser virtuosas sem que Cristo nos dê das virtudes que só existem Nele. Deus é a nossa fonte de “toda boa dádiva” e de “todo com perfeito” (Tiago 1.17) e se temos necessidade de algo, não há para onde ir, senão ao Salvador. Jesus disse que nos tem transmitido a glória que o Pai lhe deu (João 17.22) e sobre isso, escreveu um pregador:

“Observem a incomparável generosidade do Senhor Jesus, pois Ele nos tem dado o seu tudo. Embora um décimo de suas posses fosse capaz de tornar ricos milhões de anjos, enriquecendo-os além do que podemos imaginar, o Senhor Jesus não se contentou e nos deu tudo o que tinha. […] Se Jesus nos houvesse dado tão somente uma pequena provisão vinda dos seus tesouros reais, teríamos motivo suficiente por toda a eternidade. Não, o Senhor Jesus deseja que sua noiva seja tão rica quanto Ele mesmo. Cristo não tem nenhuma glória e virtude das quais a sua noiva não compartilhará. […] O Senhor Jesus outorga aos verdadeiros crentes a liberdade de tomarem para si mesmos tudo o que ele possui. Ele ama que eles se sirvam livremente do seu tesouro e se apropriem de tudo o que puderem carregar. A infinita plenitude de sua suficiência é, para o crente, tão gratuito quanto o ar que ele respira. Cristo pôs o cantil do seu amor nos lábios dos crentes e ordena que eles bebam para sempre. Se o crente pudesse secar esse cantil, seria bem aceito em fazer isso. Mas, visto que ele é incapaz de esgotar esse cantil, Cristo o ordena a beber com abundância, pois tudo é dele mesmo.” (SPURGEON, Charles. Leituras Diárias Vol II. Editora Fiel, 2006)

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Texto escrito originalmente para a página Filhas da Graça

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